Caracterizar conjuntos desconexos por meio de abertos do espaço
Seja \(X\) um espaço topológico e \(A \subset X\). Dizemos que \(A\) é desconexo em \(X\) quando existem dois abertos \(U\) e \(V\) tais que :
- \(A \subset U \cup V\)
- \(U \cap A \neq \varnothing\)
- \(V \cap A \neq \varnothing\)
- \((U \cap V) \cap A = \varnothing\)
De forma simples, um conjunto é desconexo quando suas partes podem ser separadas usando apenas abertos do espaço ambiente. Essa ideia é essencial para entender como diferentes regiões se organizam dentro de um espaço topológico e por que algumas delas não conseguem se conectar de maneira contínua.
Por que esse critério é tão útil?
Porque permite identificar a desconexão observando apenas a estrutura dos abertos. Em vez de depender de imagens geométricas ou construções mais complicadas, analisamos como os abertos se comportam em torno do conjunto. É uma abordagem direta, eficaz e muito utilizada na prática.
Primeiro exemplo
Comecemos com um caso clássico em \( \mathbb{R} \) :
$$ A = [0,1] \cup [2,3] $$
Os dois intervalos estão claramente separados. Entre eles há um intervalo que não contém qualquer ponto de \(A\).
- \([0,1]\)
- \([2,3]\)
Vamos aplicar o critério usando dois abertos simples.

Escolhemos :
- \(U = (-1,1.5)\)
- \(V = (1.5,4)\)
O resultado é imediato :
$$ U \cap A = [0,1] $$
$$ V \cap A = [2,3] $$
Não existe ponto de \(A\) pertencendo aos dois ao mesmo tempo :
$$ (U \cap V) \cap A = \varnothing $$
Temos aqui um exemplo claro de conjunto desconexo.
Segundo exemplo
Agora vejamos um caso ainda mais simples.
$$ A = \{1, 3\} $$
Dois pontos isolados não formam uma estrutura contínua entre si. A desconexão é imediata.

Aplicando o critério:
$$ U = (0,2) $$
$$ V = (2,4) $$
As interseções são:
$$ U \cap A = \{1\} $$
$$ V \cap A = \{3\} $$
Sem qualquer ponto em comum:
$$ U \cap V \cap A = \varnothing $$
Um exemplo mínimo, mas perfeito, de desconexão.
Terceiro exemplo
Agora passemos ao plano e retiramos o eixo \(x\) :
$$ A = \{(x,y)\in\mathbb{R}^2 : y>0\} \cup \{(x,y)\in\mathbb{R}^2 : y<0\} $$
Ao removermos o eixo, criamos uma barreira que impede qualquer ligação contínua entre as duas regiões.
Tomemos dois abertos simples:
$$ U = \{(x,y) : y > -1\} $$
$$ V = \{(x,y) : y < 1\} $$
Esses abertos cobrem as duas partes do conjunto:
- \(U \cap A\) cobre todo o semi-plano superior
- \(V \cap A\) cobre todo o semi-plano inferior
Sem qualquer sobreposição dentro de \(A\) :
$$ (U \cap V) \cap A = \varnothing $$
Outra desconexão evidente, agora em duas dimensões.
Demonstração do critério
A] Se tais abertos existem, então \(A\) é desconexo
Se encontramos abertos \(U\) e \(V\) que satisfazem as condições, definimos:
\[ P = U \cap A,\qquad Q = V \cap A \]
Esses conjuntos:
- são não vazios
- são abertos na topologia induzida
- são disjuntos
- recobrem \(A\)
Portanto formam uma separação de \(A\). Isso mostra que \(A\) é desconexo.
B] Se \(A\) é desconexo, então existem tais abertos
Se \(A\) já é desconexo, então existem subconjuntos:
$$ P, Q \subset A $$
abertos na topologia induzida, não vazios e disjuntos. Como são abertos em \(A\), existem abertos \(U, V \subset X\) tais que:
$$ P = U \cap A,\qquad Q = V \cap A $$
Verificamos então:
- \(A \subset U \cup V\)
- \(U \cap A = P\)
- \(V \cap A = Q\)
- \((U \cap V) \cap A = \varnothing\)
Logo, esses abertos separam \(A\) exatamente como prevê o critério.
C] Conclusão
Esse critério oferece uma visão clara do que significa um conjunto ser desconexo: basta que ele possa ser recoberto por dois abertos não vazios e disjuntos cujas interseções com o conjunto formem uma separação. É uma ferramenta essencial para analisar a estrutura de espaços topológicos, ajudando a compreender como diferentes regiões podem se isolar dentro do próprio espaço.